-
Arquitetos: Whale Design Lab
- Área: 200 m²
- Ano: 2019
-
Fotografias:Trieu Chien
-
Fabricantes: Adobe, AutoDesk, KANSAI PAINT, Morser, Ori Lighting, Revit, Segis Vietnam, Song Nam, Thanh An, Toko
‘MÀI’ é um projeto de interiores experimental que busca inspiração em alguns dos principais elementos da arquitetura moderna. O cliente é um profundo conhecedor e admirador do modernismo na arquitetura, e por isso, ele desejava incorporar e adaptar alguns conceitos universais para o contexto local de seu apartamento no centro de Ho Chi Minh, Vietnã. Como traduzir estas soluções projetuais para um contexto espaço-temporal tão diverso sem que o resultado final pareça datado?
O Apartamento MÀI faz menção à alguns projetos concebidos por Louis Kahn, principalmente na forma como ele se apropria da geometria e também na escolha dos materiais. Ainda que o modernismo tenha sido responsável por uma revolução sem precedentes na arquitetura, isso se deu a praticamente um século atrás e em um contexto complemente distinto. Seria apropriado transpor esta abordagem para o projeto de um apartamento de quatro quartos no Vietnã em pleno século XXI? Talvez não faça sentido, ou talvez sim. Como o próprio Louis Kahn disse certa vez: “Eu descobri que a pureza das formas na arquitetura encontra-se nos nossos desejo mais íntimos — no espaço intimo da casa ... o espaço interior é, portanto, extremamente sensível aos nossos desejos e necessidades. Eu estava em busca da essência de algo que não sabia exatamente o que era ... um desejo de liberdade para que o espaço da casa não ficasse restrito a sua forma pré-estabelecida.”
Incapaz de alterarmos a estrutura existente do edifício, como acontece em muitos casos hoje em dia, o apartamento MÀI se reinventa dentro de suas próprias limitações, utilizando novos elementos e formas para estabelecer o espaço interior e íntimo da casa. Decidimos nos desfazer dos elementos decorativos para enfatizar os detalhes e seus padrões geométricos, como a grande abertura circular, cantos arrendondados, arcos curvos ou até as faixas de luz que penetram o espaço durante o dia. Ao mesmo tempo, procuramos criar algumas tensões aqui e ali, quando a ordem lúdica de suas formas tende a contrapor o purismo modernista.
A arquitetura modernista foi introduzida no Vietnã em meados do século XX, em um período de busca por identidade nacional e oposição à estética neoclássica colonialista. Materiais aparentes e formas simples passaram a estar na moda em Saigon. Apropriando-se da materialidade da arquitetura deste período, utilizamos o granilite como principal material de revestimento, fundindo pisos e mobiliário em um só elemento continuo e integrado. Em vez de utilizarmos pequenos agregados como se costuma fazer, optamos por utilizar grandes peças de mármore branco para executar o acabamento de terrazzo, chanfrando cantos e criando um área de piso que foge às determinações impostas pela estrutura pré-existente.
É deste elemento que surge o nome do projeto: MÀI, que significa afiar ou polir. Dedicamos quase três anos para desenvolver e executar este projeto, afinando-o pouco à pouco, refinando, polindo cada uma das soluções propostas. MÀI, em seu aspecto físico ou construtivo, se refere à beleza do material que só vem à tona quando passamos horas lustrando, dando brilho. MÀI, no processo de execução, tem a ver com o cuidado e precisão para assentar cada uma das peças de mármore, um processo artesanal que até certo ponto se opõe à lógica industrial modernista. E o mais importante, MÀI esconde em sua atmosfera contemporânea uma sutil nostalgia pela arquitetura moderna de Saigon.